Wednesday, January 24, 2007

Um pouco da minha história

Atendendo a pedidos, decidi contar um pouquinho da minha história (rssss). Se bem que o que há de mais interessante nela, devo a meus pais, que com certeza, viveram mais momentos interessantes que eu...
Tive “a sorte” de nascer numa família de artistas. Meus pais são artesãos, trabalham com couro desde que me conheço por gente. Eu não tive uma vida muito comum a das outras criança na infância. Na maioria das vezes, era cuidada por todos, pq meus pais nunca tinham muito tempo para cuidar de mim ou de minhas irmãs. Além de estarem envolvidos com o trabalho deles, fazendo as encomendas das artes deles, tb eram envolvidos com política. Quando minha casa na era um ateliê, com um bando de gente trabalhando e martelando na minha cabeça, quando a minha mãe “batia” na pedra os sapatinhos de bebê de couro que ela fazia e aqueles retalhos de couro amontoados no chão, junto com cola de sapato e o cheiro do couro sendo queimando com pirógrafo; a minha casa tb servia de sede para reuniões do PT ou até, algumas vezes, para encontro dos hippies que fumavam baseado na minha cara. Bem, não estou reclamando, mas tinha horas que me perguntava se todas as crianças tinham uma família como a minha, se o pai delas tb era um cara de cabelo comprido cuja a cara elas nunca viram, pois quando nasceram, ele já era barbudo com bigode e que nunca,mais nunca mesmo, tinha raspado ou ao menos, aparado as pontas? A minha mãe era uma mulher que tinha até muque de tanto martelar sapatos, não gostava de se vestir como as outras mulheres, usava uma calça por debaixo de um vestido comprido e calçava tênis conga, além de detestar usar sutiã. Os dois andavam na rua e todos nos olhavam como se fôssemos a Família Adams. Éramos estranhos naquela pequena cidade chamada Petrópolis.
Eu não me achava normal, e hoje em dia penso que deveria ter feito terapia, pq tento realmente entender como o mundo “normal” funciona e não consigo e tb não me adapto. Na verdade, acho muito estranho as pessoas acharem normal que umas queiram pisar nos pescoços das outras e seguirem convenções ridículas, numa verdadeira falsidade e hipocrisia. É totalmente ridículo, mas as pessoas fazem isto como se fosse totalmente normal e até obrigatório, sendo que esta última palavra, para mim, não existe para certas coisas, como amizade, amor, etc...As pessoas se sentem obrigadas a amar, a gostar das outras, a seguir o que a sociedade determina como correto.
Eu até que era “careta”. Meus pais nunca precisaram me mandar estudar, eu já era um prodígio desde criança. Sempre fui muito adulta, sempre tive imensa responsabilidade com tudo. Não só, eu, isto se estendeu ás minhas irmãs tb. Eu nem parecia a filha de um casal de hippies: usava óculos, só andava de coque no cabelo, e era toda arrumadinha com meu uniforme, com minha mochila e meu livros escolares. Sentava na primeira cadeira da sala de aula e “realmente” prestava atenção no que a professora dizia. Nem preciso dizer que só tirava dez em tudo, era o xodozinho das professoras. Chegaram até a cogitar que eu era uma daquelas crianças especiais, que tinha o QI muito elevado e tal. Numa das escolas que estudei queriam até que eu fosse para uma turma mais avançada que ficava isolada dos outros, mas eu não quis, pq não queria parecer CDF (apesar de eu ser mesmo). Na verdade, eu me sentia sozinha, sem amigos e gostaria que todos gostassem de mim, e que meu sucesso nas provas não impedisse que os outros alunos da turma quissessem ser meus amigos, não só na hora de colar na prova, mas também no recreio, quando muitas vezes, eu fiquei sozinha.
Bem...Disto tudo, eu me rebelei no 2º grau, indo até suspensa por conta de “bater gazeta”. Depois, acabei percebendo que ser suspensa por isso era a maior besteira e acabei sendo expulsa por motivos políticos, que era muito mais “louvável” (rsssss).
Eu era uma criança medrosa, tinha medo do escuro, da “mão fria”, que minha mãe falava, de vampiros, da mendiga que tinha o apelido de “Maria dos cachorros” , de cair da escada do meu colégio e quebrar meus óculos, das meninas que ficavam implicando comigo por que tinham inveja de eu conseguir tirar nove na prova de matemática e elas, zero, então, me sacaneavam na aula de educação física, jogando a bola na minha cara na queimada (eu era aquelas meninas tontas que ficavam por último para serem queimadas, correndo para lá e para cá). Mas eu tinha coragem de discutir com o Diretor da escola pq ele queria que eu fizesse faxina na sala, junto com a turma, pq o Município não contratava pessoal da limpeza, e eu não achava certo. Quando todos tinham medo dele, eu não tinha. Quanto todos eram muito corajosos para ficar usando drogas no final da sala, mas não para discutir com os inspetores ou com o Diretor, eu tinha coragem suficiente. Às custas, de ficar com toda a turma contra mim, pois o Diretor a colocava de castigo por eu ter me rebelado contra ele. Eu ia embora e a turma lá ficava, pois tinha medo de ir contra o Diretor. Nem preciso dizer o quanto me odiaram, se já não gostavam muito de mim.
Eu também não era nenhum pouco medrosa quando se tratava de defender meus pais ou o que eles acreditavam. Quantas vezes já discuti com seus inimigos? Quantas vezes vi meus pais serem presos e fazer de tudo para ir também, o que era impossível, por eu ser criança?
Quando o “bicho pegava” eu estava sempre no meio da guerra. Não só eu, minhas irmãs tb, a gente preferia ser espancada no meio da pancadaria do que ficar longe dos meus pais. Se eles fossem mortos, nós tb queríamos ser. Acho que meus pais,nunca conheceram pessoas tão leais, quanto nós, suas filhas. Eles tiveram muitos amigos do peito, pessoas que davam o sangue por eles, mas todos estes se foram depois e alguns até,se tornaram adversários ferrenhos de uma hora para outra, mas nós, nunca, jamais! Até hoje, me pergunto se meu pai, com quem briguei há uns 3 anos, reconhece isso?
E assim, eu fui aprendendo sobre a vida. Eu acompanhei a vida deles, seus sonhos, seus ideais, sua vida, tão de perto, que sofri com seu sofrimento, que me senti traída quando eles tb foram. Meus pais nunca nos separaram de nada. Quando meu pai estava discutindo com alguém, eu aparecia no meio da discussão, pequenininha, olhando para cima, tentando entender para encontrar algo que pudesse participar dela (do lado dele, óbvio). Teve até uma vez, que eu e meu pai, batemos num cara junto, ele com soco, e eu com pontapé. Na verdade, eu estava tentando apartar a briga, mas o cara começou a bater no meu pai e eu desisti de dar uma de “deixa disso” e partir para cima tb e eu já tinha uns 20 e poucos anos, não era mais uma criança, então penso, que o cara deve ter se arrependido muito de ter brigado com meu pai. Acredito hoje em dia, que com tudo isso, nunca pude ser muito criança e principalmente, mulher, afinal, qual a moça que sai por aí distribuindo pontapés? Ou como fiz com um cara que foi criticar minha mãe comigo e não chegou nem a dizer “a” e eu já saí “rebocando”. Ainda tentaram me segurar, o que eu detesto, não há nada pior do que te segurarem quando vc está louco para apertar o pescoço de alguém. Um namorado meu, que me achava a mulher mais delicada que ele já tinha visto, ficou tão assustado com meu “repentino” comportamento, que terminou comigo logo depois. Eu tentei esconder o que eu era, mas não consegui. Ele viu bem como eu viro bicho quando fazem algo com minha família. Além disso, ainda levou uma cadeirada na cabeça, que não foi dirigida à ele, mas sim, ao safado que teve a ousadia de vir falar mal da minha mãe comigo, só que ele entrou na frente bem na hora. Ops, foi mal!

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