O sonho acabou
Acho que desta vez, a Feira de Artesanato de Petrópolis que todos estes anos (mais de 30), conseguiu se manter auto-gerida pelos artesãos, apesar de todos os obstáculos que foram sendo retirados com muitas lutas, vai sucumbir.
A gente nunca esteve numa situação muito boa. A Feira já teve seus tempos áureos, mas a categoria nunca foi muito unida, sempre tiveram aqueles, que em alguns tempos, foram muitos, quiseram ajudar o Estado a tomar conta do que havíamos conquistado com tanto sufoco. Tivemos tempos de paz, mas não durou muito. A cada governo que passava era uma nova tentativa de acabar com a gente, com nosso ganha-pão, com nosso orgulho, nossos sonhos, nossas esperanças, nossa dignidade. Porém, sempre tivemos força, sempre lutamos com unhas e dentes pelo que era nosso por direito, por merecimento, e até, pq não, por dever, pois afinal de contas, quem deve reger nossas vidas, somos nós mesmos e não um Prefeitozinho qualquer que não está nem aí para a gente, só quer nos usar para seus planos, nos manipular de todo o jeito.
Meus pais criaram a Associação dos Artesãos que depois acabou virando Sindicato do Artesãos Autônomos e lutaram na justiça, na política e na sociedade de uma forma geral, para garantir que pudéssemos ter um pouco de paz e sossego para trabalhar e dirigir as vidas e o trabalho de todos os artesãos do jeito que estes quisessem. Só quem trabalha pode ditar as regras e as normas para o seu próprio trabalho, não um Estado que nada conhece e que se acha no direito de se intrometer.
Porém, desta vez estamos fracos...A categoria não é mais aquela de antes, as pessoas de uma forma geral, mudaram muito, o capitalismo conseguiu acabar com o pouco de dignidade que ser humano ainda guardava dentro de si e nos tornamos piores que vermes, rastejando, mendigando por poucas esmolas que o Estado nos oferece.
Meus pais já estão cansados. Tantos e tantos anos sofrendo traições, que é algo que acaba com a moral de qualquer um, foram aos poucos, minando suas forças, suas resistências. Não é nada lutar com o inimigo, mas o pior é quando o inimigo está dentro do movimento, destruindo internamente algo que luta para se manter íntegro e com moral. Não há como lutar de cabeça baixa, com vergonha de si e dos companheiros.
Mesmo assim, durante mais de 30 anos, meus pais superaram tudo isto e para não sofrerem, já tinham se adaptado a estas coisas (se é que se pode adaptar-se a isto de uma maneira saudável). Mais depois deste longo tempo, depois que a idade vai tirando-lhes o vigor, que os problemas que antes os atrapalhavam, mas não acabavam com seus ânimos ou os impedia totalmente de se reerguer, eles estão a ponto de desistir.
Eu não os critico. Acompanhei bem de perto toda a sua luta. Meus pais são os seres humanos que mais admiro e que mais tenho inveja de não ter "vivido" tanto quanto eles. Eles realmente sonharam, eles realmente lutaram pelo seu sonho de com total entrega, de corpo, mente e alma. Minha mãe perdeu um filho nesta luta. Tanto ela quanto ele, nem tem onde morar hoje em dia, vivem da ajuda dos filhos e dos parentes: minha mãe mora comigo e meu pai com meus avós. Eles não tem aposentadoria, eu pago o plano de saúde dos dois. Minha mãe está diabética e meu pai, hipertenso. Ela com 57 anos, ele com 54. Não são mais os jovens que abalaram as estruturas de uma sociedade tão conservadora como a que havia (e ainda há) em Petrópolis. Chegaram lá hippies, com seus cabelos compridos, suas roupas estranhas e fundaram uma Feira de Artesanato no "peito e na raça".
Continua...
A gente nunca esteve numa situação muito boa. A Feira já teve seus tempos áureos, mas a categoria nunca foi muito unida, sempre tiveram aqueles, que em alguns tempos, foram muitos, quiseram ajudar o Estado a tomar conta do que havíamos conquistado com tanto sufoco. Tivemos tempos de paz, mas não durou muito. A cada governo que passava era uma nova tentativa de acabar com a gente, com nosso ganha-pão, com nosso orgulho, nossos sonhos, nossas esperanças, nossa dignidade. Porém, sempre tivemos força, sempre lutamos com unhas e dentes pelo que era nosso por direito, por merecimento, e até, pq não, por dever, pois afinal de contas, quem deve reger nossas vidas, somos nós mesmos e não um Prefeitozinho qualquer que não está nem aí para a gente, só quer nos usar para seus planos, nos manipular de todo o jeito.
Meus pais criaram a Associação dos Artesãos que depois acabou virando Sindicato do Artesãos Autônomos e lutaram na justiça, na política e na sociedade de uma forma geral, para garantir que pudéssemos ter um pouco de paz e sossego para trabalhar e dirigir as vidas e o trabalho de todos os artesãos do jeito que estes quisessem. Só quem trabalha pode ditar as regras e as normas para o seu próprio trabalho, não um Estado que nada conhece e que se acha no direito de se intrometer.
Porém, desta vez estamos fracos...A categoria não é mais aquela de antes, as pessoas de uma forma geral, mudaram muito, o capitalismo conseguiu acabar com o pouco de dignidade que ser humano ainda guardava dentro de si e nos tornamos piores que vermes, rastejando, mendigando por poucas esmolas que o Estado nos oferece.
Meus pais já estão cansados. Tantos e tantos anos sofrendo traições, que é algo que acaba com a moral de qualquer um, foram aos poucos, minando suas forças, suas resistências. Não é nada lutar com o inimigo, mas o pior é quando o inimigo está dentro do movimento, destruindo internamente algo que luta para se manter íntegro e com moral. Não há como lutar de cabeça baixa, com vergonha de si e dos companheiros.
Mesmo assim, durante mais de 30 anos, meus pais superaram tudo isto e para não sofrerem, já tinham se adaptado a estas coisas (se é que se pode adaptar-se a isto de uma maneira saudável). Mais depois deste longo tempo, depois que a idade vai tirando-lhes o vigor, que os problemas que antes os atrapalhavam, mas não acabavam com seus ânimos ou os impedia totalmente de se reerguer, eles estão a ponto de desistir.
Eu não os critico. Acompanhei bem de perto toda a sua luta. Meus pais são os seres humanos que mais admiro e que mais tenho inveja de não ter "vivido" tanto quanto eles. Eles realmente sonharam, eles realmente lutaram pelo seu sonho de com total entrega, de corpo, mente e alma. Minha mãe perdeu um filho nesta luta. Tanto ela quanto ele, nem tem onde morar hoje em dia, vivem da ajuda dos filhos e dos parentes: minha mãe mora comigo e meu pai com meus avós. Eles não tem aposentadoria, eu pago o plano de saúde dos dois. Minha mãe está diabética e meu pai, hipertenso. Ela com 57 anos, ele com 54. Não são mais os jovens que abalaram as estruturas de uma sociedade tão conservadora como a que havia (e ainda há) em Petrópolis. Chegaram lá hippies, com seus cabelos compridos, suas roupas estranhas e fundaram uma Feira de Artesanato no "peito e na raça".
Continua...

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