Seguimos lutando!
continua...
"Fincaram" suas barracas na praça central da cidade, onde todos os pudessem ver e se mantiveram lá debaixo de pancadaria e mentiras e traições e lutas políticas e processos na justiça e ameaças de morte e tentativas reais e tantas e tantas outras coisas, que seria necessário um livro inteiro com muitas páginas para falar sobre isso.
30 anos!!! Eu tenho 32 e vivi a maior parte da minha vida, senão, praticamente toda ela, acompanhando isto tudo e até, lutando junto com eles, muitas e muitas vezes... Meus pais são os seres mais resistentes, mais orgulhosos e mais aguerridos que eu conheço. Eles tem uma força que não sei de onde tiram. Como suportam tanto eu não sei... Durante um tempo, que estava "de mal com eles" achei que eram loucos, maníacos, obssessivos... Eu queria amenizar minha dor de vê-los sentir dor. Porém, volta e meia, eu reconhecia estes mesmo traços que cheguei a julgar como "negativos" em mim mesma e consegui entendê-los de vez. E fiz as pazes com tudo o que eles acreditam, com sua luta e agora me acho capaz de dar-lhes o conforto do herói que volta ao lar depois de tantas batalhas.
Eu só vi meu pai chorar uma vez na vida: quando fomos expulsos da Vila Bakunin (uma ocupação da qual fizemos parte). Ontem, minha irmã me ligou dizendo que ele chorou novamente. Não falo com meu pai há uns dois ou três anos por motivos pessoais, mas não pude deixar de chorar tb. Ver uma luta de tantos anos sucumbir ao inimigo é muito triste. Minha mãe, por ora, já está mais com os pés no chão e me disse que "as coisas não duram para sempre" e que devemos deixar ir... Eu concordo, mas é uma parte da minha vida, um aspecto importante da minha origem e grande parte do meu passado que estão indo para o arquivo morto. Parte de mim vai morrer com aquela Feira. A praça estará lá com seus coqueiros e com árvores que eu e minhas irmãs brincávamos de esconde-esconde e pique tá com os filhos dos outros artesãos (que hoje já devem estar casados e com suas famílias), mas o espírito dela terá ido embora. Ela irá morrer tb.
Quando penso que é o próprio homem que faz com que coisas bonitas morram, perco um pouco da esperança na humanidade. O que me faz acreditar no mundo, é relembrar as pessoas que conheci ali, que lutaram ao lado da gente, muitos que já morreram, alguns que nem mais sabemos onde estão, se vivos ou mortos...
Centenas de pessoas passaram por aquela feira, entre artesãos, artistas plásticos, fregueses, famílias que se formaram e cresceram ali, amizades, amores que nasceram ali. Eu vou ter saudade de muitas coisas, infinitas coisas, infinitas...
Não tem como expressar tudo o que sinto nestas poucas linhas. Não como contar a história de uma vida inteira tão bem "vivida" em cada segundo, minuto e hora dela. Se podemos aprender muito da vida em um dia bem vivido, imagine em 30 anos!!!
Deixo aqui, minha homenagem a meus pais, que não só por serem meus pais, são seres muito especiais, mas por tudo que tiveram coragem de fazer com suas vidas. Deixo aqui tb a homenagem por muitos que lutaram ao lado deles, uns com medo, com receios, mas que enfrentaram mesmo assim, que foram além de seus limites...Deixo a minha homenagem à "tia" Elina, a Dona Sebastiana, seu Batista (todos falecidos), que foram os que mais ficaram conosco durante um bom tempo. E a todos os outros (vivos ou mortos) que sonharam conosco. E fizeram do nosso sonho uma realidade.
Eu concluo este artigo chorando de tristeza, de emoção, de alegria, de saudade, de dor, de raiva, de amor, afinal, o que vale ter lágrimas se não podemos chorar por experiências que nos fizeram ter todos os tipos de sentimentos e que foram tão profundos?
Seguimos lutando!
"Fincaram" suas barracas na praça central da cidade, onde todos os pudessem ver e se mantiveram lá debaixo de pancadaria e mentiras e traições e lutas políticas e processos na justiça e ameaças de morte e tentativas reais e tantas e tantas outras coisas, que seria necessário um livro inteiro com muitas páginas para falar sobre isso.
30 anos!!! Eu tenho 32 e vivi a maior parte da minha vida, senão, praticamente toda ela, acompanhando isto tudo e até, lutando junto com eles, muitas e muitas vezes... Meus pais são os seres mais resistentes, mais orgulhosos e mais aguerridos que eu conheço. Eles tem uma força que não sei de onde tiram. Como suportam tanto eu não sei... Durante um tempo, que estava "de mal com eles" achei que eram loucos, maníacos, obssessivos... Eu queria amenizar minha dor de vê-los sentir dor. Porém, volta e meia, eu reconhecia estes mesmo traços que cheguei a julgar como "negativos" em mim mesma e consegui entendê-los de vez. E fiz as pazes com tudo o que eles acreditam, com sua luta e agora me acho capaz de dar-lhes o conforto do herói que volta ao lar depois de tantas batalhas.
Eu só vi meu pai chorar uma vez na vida: quando fomos expulsos da Vila Bakunin (uma ocupação da qual fizemos parte). Ontem, minha irmã me ligou dizendo que ele chorou novamente. Não falo com meu pai há uns dois ou três anos por motivos pessoais, mas não pude deixar de chorar tb. Ver uma luta de tantos anos sucumbir ao inimigo é muito triste. Minha mãe, por ora, já está mais com os pés no chão e me disse que "as coisas não duram para sempre" e que devemos deixar ir... Eu concordo, mas é uma parte da minha vida, um aspecto importante da minha origem e grande parte do meu passado que estão indo para o arquivo morto. Parte de mim vai morrer com aquela Feira. A praça estará lá com seus coqueiros e com árvores que eu e minhas irmãs brincávamos de esconde-esconde e pique tá com os filhos dos outros artesãos (que hoje já devem estar casados e com suas famílias), mas o espírito dela terá ido embora. Ela irá morrer tb.
Quando penso que é o próprio homem que faz com que coisas bonitas morram, perco um pouco da esperança na humanidade. O que me faz acreditar no mundo, é relembrar as pessoas que conheci ali, que lutaram ao lado da gente, muitos que já morreram, alguns que nem mais sabemos onde estão, se vivos ou mortos...
Centenas de pessoas passaram por aquela feira, entre artesãos, artistas plásticos, fregueses, famílias que se formaram e cresceram ali, amizades, amores que nasceram ali. Eu vou ter saudade de muitas coisas, infinitas coisas, infinitas...
Não tem como expressar tudo o que sinto nestas poucas linhas. Não como contar a história de uma vida inteira tão bem "vivida" em cada segundo, minuto e hora dela. Se podemos aprender muito da vida em um dia bem vivido, imagine em 30 anos!!!
Deixo aqui, minha homenagem a meus pais, que não só por serem meus pais, são seres muito especiais, mas por tudo que tiveram coragem de fazer com suas vidas. Deixo aqui tb a homenagem por muitos que lutaram ao lado deles, uns com medo, com receios, mas que enfrentaram mesmo assim, que foram além de seus limites...Deixo a minha homenagem à "tia" Elina, a Dona Sebastiana, seu Batista (todos falecidos), que foram os que mais ficaram conosco durante um bom tempo. E a todos os outros (vivos ou mortos) que sonharam conosco. E fizeram do nosso sonho uma realidade.
Eu concluo este artigo chorando de tristeza, de emoção, de alegria, de saudade, de dor, de raiva, de amor, afinal, o que vale ter lágrimas se não podemos chorar por experiências que nos fizeram ter todos os tipos de sentimentos e que foram tão profundos?
Seguimos lutando!

